quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Minha Versão do Trash 80's

Eu nunca fui fã desse revival anos 80 (que agora já está entrando nos 90). Esse sentimento nostálgico trash que o povo tem com o Trem da Alegria e Xuxa, por exemplo, não faz a minha cabeça. Mas ontem, sem querer, eu entendi um pouco o porquê dessa febre.

Mas a minha nostalgia veio com o cinema e não com a música. Mais precisamente com dois fimes: Gatinhas e Gatões, do saudoso John Hughes, que escrevi aqui (clique para ler) na época de sua morte e foi exibido no telefilme; e o Pesadelos Diabólicos, uma coletaneazinha com quatro histórias de terror que me conquistou na época (eu sempre adorei filmes trash de terror).

Duas histórias são extremamente bobinhas. A primeira, "Terror em Topanga", que conta a história de uma mulher perseguida por um maníaco que está aterrorizando a cidade; e a quarta, “A Noite do Rato” que mostra a luta de uma família contra um ratão gigante (o bicho parece um pônei) que está destruindo sua casa.

O interessante mesmo é o miolo. O segundo conto, “O Bispo da Batalha”, talvez seja o primeiro filme do Emilio Estevez. Ele é um viciado em fliperama que tenta vencer o jogo do bispo do título. Como foi justamente nessa época que eu comecei a entrar (sem que meu pai soubesse, claro) em flipers, eu pirei com a história. O conto seguinte, “A Benção” era outro petardo. Um padre que perdeu a fé (interpretado pelo Lance Henriksen – que ficou famoso no papel do andróide Bishop nos dois primeiros Aliens) e se manda da igreja. Viajando de carro pelo deserto ele começa a ser perseguido por um carro negro, que tenta mata-lo a todo custo, colocando sua fé novamente em xeque.

Ver esses dois filmes, que marcaram a minha infância e adolescência, me fez lembrar de como comecei a amar cinema. A minha geração viu o nascimento do vídeo cassete. Sou de um tempo que quando uma continuação estreava nas telonas, os cinemas exibiam o filme original para refrescar a cabeça de quem já viu e atrair aqueles que não viram o longa na sua época de lançamento.

Lembro até hoje que foi numa segunda-feira, em março de 1985, quando estava na quarta série do primeiro grau, que voltei pra casa feliz da vida com meus pais porque fomos sorteados no nosso primeiro dia de consórcio (bendito número 13) para a compra de um vídeo cassete. Hoje isso é considerado banal por todo mundo, mas naquele ano, ter um “cinema em casa” era inédito. Eu fui o primeiro da rua, do bairro e da escola a ter uma maravilha daquelas: Um sharp, duas cabeças, controle remoto com fio que pesava uns 20 quilos.

No dia seguinte, eu, meu irmão e meu pai fomos à locadora que pertencia ao grupo da concessionária (hoje uma concessionária de carros). Lá tinha um vídeo clube, uma das idéias mais geniais que vi na vida. Você pagava uma quantia por mês e podia levar dois filmes por dia. Eu ia religiosamente todo santo dia na Pinhal e voltava felizão pra casa com um filme (o outro era do meu irmão).

Se por um lado eu pegava minhas fitas trash ou blockbuster da época, meu pai ia vez ou outra buscar um policial à lá Charles Bronson ou algum clássico e o Sérgio, como já entendia do riscado, pegava filme de qualidade. E com isso eu fui moldando mais ou menos o meu gosto atual (sendo que não tenho muito mais saco pros trashs, apesar deles ainda me divertirem um bocado).

Foi uma época muito boa. Se por um lado eu não tinha a facilidade para baixar filme pelo computador, eu contava com o acervo “alternativo” das locadoras de Santos. Além disso, com o tempo eu aprendi a copiar filmes (dava um puta trabalho juntar dois vídeos para fazer uma pirataria bacana) e comecei a criar o meu acervo particular. Óbvio que as fitas praticamente apodreceram e tive que joga-las fora com uma dor imensa no coração. Mas elas tiveram seu ciclo encerrado e tomado pelos DVDs, que seguem firmes e fortes nas minhas prateleiras.

Nenhum comentário: