sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Adeus, John Hughes

Chegando em casa ontem a noite recebi a triste notícia da morte do diretor John Hughes. Muita gente não deve lembrar o seu nome, mas todo mundo já assistiu quase todos os seus filmes, principalmente o maior clássico da Sessão da Tarde: Curtindo a Vida Adoidado. E apesar de nunca ser lembrado nas famosas listas de ‘os melhores diretores de...”, é inegável a sua contribuição para o cinema, principalmente quando o tema é ‘filme de adolescente dos anos 80’.

Hughes entendeu como poucos a cabeça da molecada daquela época e conseguiu traduzir em filmes todos os sentimentos, desejos, angústias e sonhos de uma geração. E isso já se nota em seu primeiro filme, "Gatinhas e Gatões (1984)", que mostrava as frustrações da adolescente prestes a completar 16 anos, apaixonada pelo garoto mais popular da escola e que é o amor platônico de um garoto tímido e vê seu aniversário sendo completamente esquecido pela família que volta as atenções para o casamento da irmã mais velha. Além disso, o filme lançou dois atores que marcaram muito a geração dos anos 80: Molly Ringwald e Anthony Michael Hall.

No ano seguinte ele fez o seu melhor e mais importante filme: "O Clube dos Cinco". Além de Molly Ringwald e Anthony Michael Hall, o “clube” era formado por Emilio Estevez, Judd Nelson e Ally Sheedy que, junto com os outros dois, estavam confinados na escola num sábado inteiro cumprindo detenção. Além deles, somente outros dois personagens tem destaque no filme: Paul Gleason, como o diretor da escola e o zelador vivido por John Kapelos.

Mas a história fica mesmo nos cinco personagens, que, a princípio, são totalmente diferentes um dos outros (o atleta, o cérebro, a princesa, a complicada e o criminoso), que se repudiam de início, mas aos poucos vão se conhecendo, dividindo seus problemas e descobrindo que no fundo todos eles são bem parecidos. Um clássico dos filmes de adolescente dos anos 80.

No mesmo ano, Hughes fez a alegria da nerdaiada de plantão com "Mulher Nota 1000". Novamente com Anthony Michael Hall no papel de geniozinho, mas dessa vez ele usa a cabeça privilegiada para criar no seu computador a mulher perfeita. E nada melhor do que Kelly LeBrock representar a perfeição feminina no filme. Se ela, que tinha acabado de se tornar sexy symbol em A Dama de Vermelho, já era o objeto de consumo de qualquer marmanjo, imagina da galera nerd que não tinha chance alguma com a mulherada. Pela primeira vez, os nerds tiveram uma chance. E que chance...

A obra-prima de Hughes veio em 1986. "Curtindo a Vida Adoidado" se tornou o “clássico dos clássicos” da Sessão da Tarde. Impossível alguém não ter visto esse filme na Globo, no cinema, em VHS, DVD, computador, you tube ou o que quer que seja. Impossível alguém não ter desejado uma tarde como a de Ferris Bueller, que dá uma cabulada de aula fenomenal para ter um dia perfeito.

E entenda-se como dia perfeito enganar os pais, sacanear o diretor da escola, almoçar no melhor restaurante da cidade (porra, como esquecer o golpe do Rei da Salsicha de Chicago!!!!!!!!), visitar um museu, o Sears Tower, dirigir uma Ferrari, assistir um jogo de beisebol do seu time de coração e se meter no meio de uma parada alemã para realizar uma incrível performance de Twist and Shout. Tudo isso num único dia e acompanhado da namorada e do melhor amigo. Imperdível.

O começo do fim veio com a mudança do foco. Fora do universo teen, Hughes fez em 1987 o "Antes Só que Mal-Acompanhado". Um bom filme, com Steve Martin e John Candy (dois grandes comediantes que estavam em um momento ruim de suas carreiras), ótimas sacadas e bom roteiro, mas que se perde no final com um desfecho pra lá de piegas. Mesmo assim, vale a pena ver porque o timing de Martin e Candy está ótimo.

Seus últimos três filmes foram decepcionantes. “Ela Vai Ter um Bebê (1988)”, com Kevin Bacon e Elizabeth McGovern; “Quem Vê Cara Não Vê Coração (1989)” novamente com John Candy e lançando o garoto Macaulay Culkin e o terrível “A Malandrinha (1991)”, com James Belushi.

Depois disso escreveu e produziu alguns filmes que não fizeram grande alarde, salvo os dois primeiros Esqueceram de Mim, que lançaram Culkin ao estrelato e fizeram muito sucesso com a criançada. Mas nem mesmo esse final de carreira derrapante é capaz de apagar ou diminuir a sua importância na história do cinema. Quem foi criança ou adolescente nos anos 80 que o diga.

Salve, Ferris.
Descanse em paz, Hughes.