sábado, 10 de março de 2007

Hello, My Name is Borat

Acredito que todo mundo já tenha ouvido falar de Borat. Com certeza um dos melhores (na minha opinião o melhor) filme de 2006. Escrevi um texto a pedido do amigo Marcelo Damaso, que edita o caderno de cultura do Diário do Pará. A matéria foi publicada na edição de hoje e resolvi colocar aqui também. Segue abaixo:


Escrachado, vulgar, escatológico, sarcástico, surrealista, preconceituoso, machista ... Vários adjetivos poderiam definir “Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”. Mas, trocando em miúdos, apenas um resume com eficiência o filme do comediante britânico Sacha Baron Cohen: brilhante.

Para quem nunca ouviu falar de Cohen, uma dica: ele tem mais dois personagens provocativos que são sucesso na TV britânica. O rapper Ali G, apresentador de um talk show e Bruno, um repórter de moda austríaco, especialista em irritar seus convidados.

Borat, porém, revelou-se sua obra-prima. Trata-se de um “mockumentary” - trocadilho com as palavras gozação (“mocking”) e documentário – que narra as aventuras do repórter Borat Sagdieyv e seu produtor, Azamat Bagatov em uma tresloucada viagem aos Estados Unidos, financiados pela TV Nacional do Cazaquistão. A missão? Conhecer, registrar e disseminar em seu país a cultura e o estilo de vida ianque.

O grande mérito do filme é que, exceto a atriz Pamela Anderson, nenhum dos “figurantes” sabia de que se tratava de uma farsa. Todos acreditavam que realmente participavam de um documentário que só seria veiculado no longínquo país asiático – e, talvez por isso, deixam aflorar características normalmente “maquiadas” em seu convívio social: preconceito, desinformação e ironias, digamos, não muito finas.

Cabe ao intrépido “repórter” conduzir as participações involuntárias ao limite da tolerância alheia – remetendo a referências ácidas como Monty Python, Peter Sellers e até mesmo, em certos momentos, Michael Moore e seu panfletarismo inconseqüente.

Em um dos poucos momentos roteirizados, Borat entra em cena apresentando o “Cazaquistão” (na verdade, um vilarejo ímpar no interior da Romênia) como um país pobre e atrasado, habitado por pessoas ignorantes, vulgares e racistas. Este quadro desfavorável faz da ida aos EUA uma empreitada quase “messiânica”, em nome do engrandecimento de sua terra natal.

A utopia só resiste ao take inicial, porém. Assim que desembarca, Borat se vê em rota de colisão com a cultura do Tio Sam. Seus contatos com os cidadãos norte-americanos comuns são quase sempre traumáticos, constrangedores e... muito divertidos – exceto para os adeptos inabaláveis do “politicamente correto”. Judeus, ciganos, feministas, autoridades e fanáticos religiosos desfilam pela tela com seus hábitos e costumes colocados em cheque. É a reinvenção do “american way of life”.

Há pelo menos três cenas antológicas. O jantar de Borat com uma típica vizinhança norte-americana, onde ele “aprende” regras de etiqueta. A briga com o produtor nos corredores e no elevador do hotel. E sua “versão” para o Hino Nacional Norte-Americano, cantada na abertura de um rodeio interiorano – que quase termina em linchamento do ator.

Por essas e outras, o filme já é considerado um divisor de águas no gênero e tornou-se sucesso no mundo inteiro. Orçado em US$ 18 milhões, Borat arrecadou US$ 26 milhões só no primeiro final de semana de exibição nos cinemas americanos e já rompeu a marca de US$ 130 milhões nas bilheterias da América do Norte, além de 23 milhões de libras do mercado britânico.

E Sacha Baron Cohen também já está virando um campeão dos Tribunais. Por conta de Borat, processos se acumulam em seu escritório – Governo do Cazaquistão, Governo da Romênia e dúzias de anônimos querem indenizações. Além disso, vale ressaltar que, ao longo das filmagens, a Polícia norte-americana foi chamada mais de 90 vezes.

Por enquanto, a única sentença que já tem veredicto é a cinematográfica: vitória do escracho.