quarta-feira, 4 de abril de 2007

Everybody Loves Peter Boyle

Finalmente o canal Sony tomou vergonha na cara e resolveu colocar no ar a última temporada de "Everybody Loves Raymond". O nono e derradeiro ano da série, cujo último capítulo foi exibido nos Estados Unidos no dia 16 de maio de 2005, começa a ser transmitido no Brasil, amanhã, a partir das 21h30.

Estrelado por Ray Romano, Patricia Heaton, Doris Roberts, Brad Garrett, Peter Boyle e Monica Horan, Everybody Loves Raymond mostra os conflitos de um casal que não consegue se livrar se livrar do irmão invejoso, a mãe dominadora e o pai ranzinza do protagonista. O seriado recebeu ao todo 65 indicações para o Emmy e abocanhou 12 estatuetas. Nos últimos anos em que esteve no ar, foi a comédia de maior audiência da TV norte-americana.

Outro motivo para assistir é porque esta é a oportunidade de conferir um dos últimos trabalhos do saudoso Peter Boyle, que morreu aos 71 anos de idade, no dia 12 de dezembro de 2006 e interpretava Frank Barone, o pai ranzinza, mal humorado, grosseiro e sarcástico (por que será que eu adoro esse personagem???) de Raymond Barone.

Boyle foi um dos grandes atores de sua geração. Padrinho de John Lennon em seu casamento com Yoko Onno, ele despontou no cinema em 1970 com o filme "Joe", onde interpretou o personagem-título – um bêbado reacionário que odiava os negros e os hippies. Dois anos depois veio o seu personagem marcante: A Criatura, na comédia "O Jovem Frankenstein", de Mel Brooks. Em 1974, ele teve outra participação de destaque no fabuloso "Taxi Driver", de Martin Scorsese.

Depois disso, realizou diversos trabalhos menores tanto no cinema quanto na TV, mas acertou novamente o timing em Everybody Loves Raymond. Para quem não conhece será uma boa oportunidade para conferir o talento de Boyle e para quem conhece, é a oportunidade perfeita para se despedir do impagável Frank Barone.


O primeiro e único Peter Boyle

sábado, 10 de março de 2007

Hello, My Name is Borat

Acredito que todo mundo já tenha ouvido falar de Borat. Com certeza um dos melhores (na minha opinião o melhor) filme de 2006. Escrevi um texto a pedido do amigo Marcelo Damaso, que edita o caderno de cultura do Diário do Pará. A matéria foi publicada na edição de hoje e resolvi colocar aqui também. Segue abaixo:


Escrachado, vulgar, escatológico, sarcástico, surrealista, preconceituoso, machista ... Vários adjetivos poderiam definir “Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”. Mas, trocando em miúdos, apenas um resume com eficiência o filme do comediante britânico Sacha Baron Cohen: brilhante.

Para quem nunca ouviu falar de Cohen, uma dica: ele tem mais dois personagens provocativos que são sucesso na TV britânica. O rapper Ali G, apresentador de um talk show e Bruno, um repórter de moda austríaco, especialista em irritar seus convidados.

Borat, porém, revelou-se sua obra-prima. Trata-se de um “mockumentary” - trocadilho com as palavras gozação (“mocking”) e documentário – que narra as aventuras do repórter Borat Sagdieyv e seu produtor, Azamat Bagatov em uma tresloucada viagem aos Estados Unidos, financiados pela TV Nacional do Cazaquistão. A missão? Conhecer, registrar e disseminar em seu país a cultura e o estilo de vida ianque.

O grande mérito do filme é que, exceto a atriz Pamela Anderson, nenhum dos “figurantes” sabia de que se tratava de uma farsa. Todos acreditavam que realmente participavam de um documentário que só seria veiculado no longínquo país asiático – e, talvez por isso, deixam aflorar características normalmente “maquiadas” em seu convívio social: preconceito, desinformação e ironias, digamos, não muito finas.

Cabe ao intrépido “repórter” conduzir as participações involuntárias ao limite da tolerância alheia – remetendo a referências ácidas como Monty Python, Peter Sellers e até mesmo, em certos momentos, Michael Moore e seu panfletarismo inconseqüente.

Em um dos poucos momentos roteirizados, Borat entra em cena apresentando o “Cazaquistão” (na verdade, um vilarejo ímpar no interior da Romênia) como um país pobre e atrasado, habitado por pessoas ignorantes, vulgares e racistas. Este quadro desfavorável faz da ida aos EUA uma empreitada quase “messiânica”, em nome do engrandecimento de sua terra natal.

A utopia só resiste ao take inicial, porém. Assim que desembarca, Borat se vê em rota de colisão com a cultura do Tio Sam. Seus contatos com os cidadãos norte-americanos comuns são quase sempre traumáticos, constrangedores e... muito divertidos – exceto para os adeptos inabaláveis do “politicamente correto”. Judeus, ciganos, feministas, autoridades e fanáticos religiosos desfilam pela tela com seus hábitos e costumes colocados em cheque. É a reinvenção do “american way of life”.

Há pelo menos três cenas antológicas. O jantar de Borat com uma típica vizinhança norte-americana, onde ele “aprende” regras de etiqueta. A briga com o produtor nos corredores e no elevador do hotel. E sua “versão” para o Hino Nacional Norte-Americano, cantada na abertura de um rodeio interiorano – que quase termina em linchamento do ator.

Por essas e outras, o filme já é considerado um divisor de águas no gênero e tornou-se sucesso no mundo inteiro. Orçado em US$ 18 milhões, Borat arrecadou US$ 26 milhões só no primeiro final de semana de exibição nos cinemas americanos e já rompeu a marca de US$ 130 milhões nas bilheterias da América do Norte, além de 23 milhões de libras do mercado britânico.

E Sacha Baron Cohen também já está virando um campeão dos Tribunais. Por conta de Borat, processos se acumulam em seu escritório – Governo do Cazaquistão, Governo da Romênia e dúzias de anônimos querem indenizações. Além disso, vale ressaltar que, ao longo das filmagens, a Polícia norte-americana foi chamada mais de 90 vezes.

Por enquanto, a única sentença que já tem veredicto é a cinematográfica: vitória do escracho.