terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Away de Petrópolis

O amigo Roberto Novaes, do Phodase, mandou especialmente para o Cotidiano Ranzinza uma singela história sobre o mestre Gil Brother, o Away de Petrópolis. Segue abaixo a íntegra.

Roberto Novaes:

Brother lavava os carros dos playboys da rua 16 de Março e de alguns excelentíssimos vereadores de Petrópolis. Ídolo dos rastas e hippies e Cristo dos playboys, fato é que, sendo esculachado ou sendo ovacionado, ele era o centro das atenções naquele pedacinho do centro.

Belo dia de sol, um senhor que, além de playboy era excelentíssimo, resolveu dar um esporro nele, uma vez que sua dança e música alta atrapalhavam a plenária da Câmara.

Do alto da janela do belíssimo “Palácio da Águia”, nosso nada diplomático representante berrava a plenos pulmões, “ô ô... bota o carro na Irmãos D’angelo, isso aqui é um lugar de respeito! E aproveita pra tomar um banho, seu porco!”.

Humilde, Borther providenciava a remoção do carro para o endereço sugerido, alguns moradores, curiosos, debatiam nas calçadas: ”Isso aqui não é Nova Iguaçu, não!”, “a gente paga um dinheirão de IPTU, condomínio, e ainda tem que aturar esse crioulo!” e outros comentários mais, típicos do conservador repertório tijucano dos petroboys.

Mais democráticos, alguns passantes comentavam... “esse cara é muito calmo... eu já tinha mandado essa gente à merda!”.

Já com os tapetes, baldes e panos recolhidos, Brother liga o carro, avança uns 5 metros... pára... abre a porta e, antes de seguir para a Irmãos D’angelo, se vira para o Palácio e manda seu recado: “ô excelência... excelênciaaa... AWAAAAY!!”.

15 anos se passaram. O ex-excelentíssimo jamais fora reeleito e seu pequeno comércio de bairro devidamente engolido por dois grandes supermercados. Ele anda de ônibus e reclama das obras da prefeitura. Um de seus netos costuma passar as tardes vagando com a turma, pelo centro da cidade, caçando bagana e trajando uma camiseta com a estampa do rosto vesgo do excelente Gil “Away” Brother.


Abaixo, uma compilação do grande mestre Gil Brother. Dedicado ao bando de badernista que visita este blog diariamente.

Away

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Família Soprano

Não é nenhum exagero afirmar que A Família Soprano é uma das melhores produções da história da televisão. A série é um divisor de águas na história da TV norte-americana e significa para o drama o mesmo que Seinfeld significa para a comédia. A produção da HBO que teve início em 10 de janeiro de 1999 e terminou em 10 de junho de 2007 começa a ser transmitida hoje pelo canal Warner, às 21h.

Vencedora de cinco Globos de Ouro e 21 prêmios Emmy, Família Soprano devolveu à televisão americana a qualidade que ela havia perdido nos anos 70 para as produções hollywoodianas. Com um elenco primoroso, roteiros brilhantes e ótima direção a série foi um dos ícones pop da virada dos anos 90 para os 00. Não é a toa que recebeu enxurradas de elogios dos principais veículos dos Estados Unidos, sendo tratada por adjetivos como “a maior obra prima da cultura pop da sua época” ou “a mais rica conquista da história da televisão”. A Família Soprano figura na quinta colocação dos “50 melhores shows da TV em todos os tempos”, do TV Guide.

Ao lado de O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e Cassino, a série é essencial para entender o universo dos mafiosos. A história é centrada na máfia de Nova Jérsei e o fio condutor dessa saga é Anthony Soprano, que se divide entre os problemas da sua família e da sua “família”. Assim como as outras grandes produções da HBO, ela conduz o espectador a conhecer todos os lados da história, desde o glamour até a podridão, mostrando o lado humano dos personagens, suas crises e dificuldades, tratando todos com um nível de realismo impressionante.

Tony Soprano é o melhor exemplo disso. Um homem de meia-idade, que sofre de depressão e síndrome do pânico e que busca melhorar a vida através da terapia. Seus amigos não podem saber de sua ‘fragilidade’. Afinal de contas, um chefe da máfia não pode passar por esse tipo de problema e muito menos se ‘confessar’ para uma psicóloga. Desse modo, somos apresentados aos dois “Tonys”. O brutal e implacável mafioso, que não teme nada nem ninguém e o homem contemporâneo comum, fragilizado pelo peso da responsabilidade em constante crise com a esposa e filhos. Simplesmente imperdível.

Conheça os Sopranos:
Anthony “Tony” Soprano (James Gandolfini): Personagem principal. No início da série é capitão e ascende a chefe da família em substituição ao seu tio Junior.

Carmela Soprano (Edie Falco): Mulher de Anthony Soprano.

Dra. Jennifer Melfi (Lorraine Bracco): Psicóloga de Anthony Soprano. Com o desenvolver da série passar a ter o seu próprio psicólogo a quem confidencia a terapia de Anthony Soprano.

Christopher Moltisanti (Michael Imperioli): Primo de Carmela Soprano, que Anthony Soprano trata como sobrinho. Sobe aos poucos na família até atingir o posto de capitão.

Silvio Dante (Steve Van Zandt): Proprietário do Bada Bing, “consegliere” e antigo membro da família. Braço direito de Anthony Soprano.

Paulie “Walnuts” Gualtieri (Tony Sirico): Capitão e antigo membro da família. Tem o respeito de Anthony Soprano por ter trabalhado com o seu pai, Johnny “Boy” Soprano.

Corrado “Junior” Soprano (Dominic Chianese): Irmão de Johnny “Boy” Soprano. Com a morte de Jackie Aprile, assume o comando da família DiMeo, que, como passa a ser chefiada por um Soprano, passa a ser conhecida como família Soprano. Após uma manobra interna foi substituído no comando pelo sobrinho, Anthony.

Meadow Soprano (Jamie-Lynn DiScala): Filha mais velha de Anthony Soprano. Não concorda com o estilo de vida do pai. Após ingressar na universidade afasta-se ainda mais do pai, mantendo apenas contacto com a mãe e com o irmão.

Anthony “AJ” Soprano Jr. (Robert Iler): Filho novo de Anthony Soprano. Um jovem completamente o oposto da irmã. Não se preocupa com o futuro, não assumindo responsabilidades. Não vê no pai o modelo ideal, mas, diferente da irmã, não se importa muito e aproveita a vida de filho do chefe.

Bobby “Bacala” Baccalieri (Steve Schirripa): Membro da família que ajudava “Junior” antes deste deixar de ser o chefe.

Janice Soprano (Aida Turturro): Irmã de Anthony Soprano. Sempre dramática, provoca o irmão até este perder a calma. Não tem uma fonte de renda fixa e depende da ajuda do irmão para continuar a vida.

Artie Bucco (John Ventimiglia): Antigo amigo de Anthony Soprano. Dono do restaurante Nuovo Vesuvio, onde a máfia habitualmente se reúne para jantar. Não tem qualquer ligação com os esquemas da máfia, apesar da amizade.

Adriana La Cerva (Drea de Matteo): Noiva de Christopher.

Johnny "Sack" Sacramoni (Vincent Curatola): Inicialmente capitão da família de Nova Iorque e sobe ao posto de chefe após a morte de Carmine Lupertazzi. Ganancioso, não deixa escapar qualquer possibilidade de negócio e muitas vezes briga com Anthony Soprano.

Salvatore “Big Pussy” Bonpensiero (Vincent Pastore): Capitão amigo de Anthony Soprano, antigo membro da família.

Furio Giunta (Federico Castelluccio): Membro da máfia italiana que após um acordo vai para a América para trabalhar para a família.

Richie Aprile (David Proval): Irmão de Jackie Aprile. Esteve preso por vários anos e ao sair da prisão reclamar o direito de ser novamente capitão. Não concorda com a troca de chefe na família e ameaça Anthony várias vezes.

Anthony “Tony B” Blundetto (Steve Buscemi): Primo de Anthony. Esteve preso por vários anos e ao sair da prisão tenta não voltar ao mundo do crime.

Livia Soprano (Nancy Marchand): Mãe de Anthony. Muito severa, não aprova nada que o filho faz. Nos seus últimos anos de vida perde a noção das coisas e passa a ser uma ameaça para o próprio filho.

Ralph Cifaretto (Joe Pantoliano): Membro da máfia, ganancioso e oportunista. Após a morte de Jackie, envolve-se com a viúva com a intenção de subir na família. Consegue fazer apesar de Anthony não aprovar as suas atitudes.

Jackie Aprile (Michael Rispoli): Antigo chefe da família DiMeo (agora conhecida por família Soprano), adorado por todos e referenciado como o chefe perfeito que sabia conduzir os negócios com calma. Morre de câncer, deixando o lugar vago.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Todos Estão Cegos

É simplesmente ridícula a atitude da associação de cegos dos EUA, que planeja protestos contra o Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. O presidente da entidade, Marc Maurer, que é cego, reclama que “o filme retrata cegos como monstros, e vejo isso como uma mentira.”

Cegos e simpatizantes distribuirão panfletos na estréia com os dizeres: “Eu não sou ator. Mas eu ajo como uma pessoa cega na vida real”. Deveria acrescentar que agem como burros e idiotas também, pois não são capazes de compreender uma simples metáfora de José Saramago que foi transportada para as telas com extrema fidelidade.

Uma pessoa com o mínimo discernimento é capaz de perceber que a cegueira descrita pelo escritor português é aquela que nos leva a observar apenas nossos próprios interesses e que por causa disso as pessoas estão se tornando cegas no mundo contemporâneo. A obra de Saramago usa a cegueira como uma metáfora para a falta de comunicação e respeito à dignidade humana na sociedade contemporânea.

O protesto dessa associação é tão estúpido quanto ao das ONGs Conquista Down e Grupo Educação e Autismo, que tentaram fazer um boicote contra o “Trovão Tropical”, por usar o termo “retardado” no filme, que satiriza personagens idiotas como Forrest Gump, Sam (Uma Lição de Amor) e Chance (Muito Além do Jardim). E como sempre, o tiro dessas manifestações sai pela culatra, já que todos querem ver o que “há de errado” nesses filmes.

Segue abaixo o trailer do ótimo Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles.