Quando o stand up comedy engrenou no Brasil e uma nova safra de comediantes nos foi apresentada, eu comemorei. Acreditava piamente que a chegada dessa vertente humorística colocaria fim a programas constrangedores como Zorra Total, Show do Tom, Casseta e Planeta, A Praça É Nossa e outros do gênero. Mas o sonho durou pouco e acabou. Pior, se tornou um pesadelo. Pois esses novos humoristas além de não trazerem nenhuma novidade, provaram que bebem da mesma fonte que os programas antigos, utilizando a mesma fórmula esgotada, repleta de trocadilhos e piadas de duplo sentido.
Uma das raríssimas exceções é o polêmico Pânico na TV que, embora não agrade gregos e troianos (eu acho fantástico), segue uma linha de raciocínio diferente dos demais: O objetivo é o escracho puro e simples, sem lição de moral ou defesa de causa. Por essa falta de pudor eles vão do céu ao inferno, com tiradas geniais e episódios lamentáveis. Mas sempre seguindo a mesma linha de pensamento. Por isso, acho que a trupe de Emílio Surita (principalmente Carioca e César Polvilho) é a única coisa que se salva a TV Aberta. Por que o resto... É de amargar. Quer exemplos?
Seu primo de primeiro grau, o CQC estreou cheio de pompa apostando no talento de Marcelo Tas, na nova safra de humoristas de stand up como Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Oscar Filho, além de Marco Luque, que brilhava com seus personagens no Terça Insana. O programa começou muito bem, conquistando uma platéia nova, formada principalmente de jovens que já conheciam boa parte desses humoristas graças à internet, mas o sucesso subiu a cabeça da rapaziada e seus humoristas se tornaram “jornalistas” e o que é pior: paladinos da justiça.
Nada contra intimar políticos, autoridades e pessoas que se aproveitam dos demais em benefício próprio. Muito pelo contrário, essa gente tem que ser cobrada mesmo. Mas com limites. O que o povo do CQC faz no quadro Proteste Já beira o ridículo. Não é porque o “fraudador” age errado que o repórter do programa precisa fazer o mesmo. Tanto Danilo Gentili quanto Rafinha Bastos não dão chances ao acusado se defender, como chegam ao cúmulo de “seqüestrar” um pertence do sujeito, com a desculpa de devolver quando o problema for solucionado. Com que autoridade eles fazem isso? Essa pose de paladino da justiça é simplesmente revoltante. Além disso, o CQC caiu muito de qualidade com a inclusão da humorista feminina fanha. Sem graça, ela não dá uma bola dentro. Dá pena da coitada... Além disso, assim como os Gremlins, o programa foi molhado e se multiplicou, dando origem a outras duas desgraças chamadas A Liga e Formigueiro.
A Liga é apresentado por Rafinha Bastos, Thaide e duas outras que não lembro o nome, não tenho o menor interesse em saber quem são e muito menos procurar o nome delas no google. É uma cópia barata e sem um pingo de originalidade de outras atrações estilo “sentindo na pele”. Nada que não tenha sido feito com maestria por Michael Moore no extinto TV Nation ou por Louis Theroux em seus “Estranhos Finais de Semana...”. Até Gugu Liberato já fez a mesma coisa que os revolucionários novos humoristas. E é claro que aqui, a pose de paladino da justiça e luta social impera. Sempre da pior maneira possível. Uma lástima.
Bem pior que A Liga é o Formi-gueiro de Marco Luque. Uma das coisas mais banais que surgiu na história da televisão mundial. Até o Teletubbies tem mais conteúdo que essa boçalidade apresentada pelo humorista, que é ajudado no palco por um cientista maluco (quanta originalidade...) e uma dupla de “bonecos formiga” carinhosamente chamada de Tana e Jura (aaahhh esses incríveis trocadilhos...).
Mas a grande desgraça mesmo atende pelo nome de Legendários, projeto “desenvolvido” pelo magnânimo, super-poderoso e ultra-hiper-mega modesto Marcos Mion que definiu sua atração como uma revolução na televisão brasileira. UAU!!!!!! Mas... a coisa não é bem assim... Mionzera acha que está descobrindo a pólvora e inventando a roda com o seu “humor do bem”. Manja vergonha alheia? É o que sentimos quando assistimos o Legendários. O programa compete com a Zorra Total e consegue ser muito mais broxante que o humorístico da Globo. Além de quadros caretóides em prol do meio-ambiente e politicamente corretos (olha a síndrome do paladino da justiça atacando aqui também), a atração da Record conseguiu acabar com a trupe do Hermes e Renato, que era uma das únicas coisas que prestava na MTV. O programa é tão ruim, mas tão ruim que em pouco tempo já decepou três cabeças: A de um pára-quedista que não se sabe o que fazia ali, uma ex-BBB que fazia o papel de bunda e o negro que fazia uma espécie de super-herói ajudado por um anão. Triste.
E olha que nem a TV Paga se salva. Ou alguém consegue assistir o programa vagabundo do filho do Chico Anysio, que é considerado um dos melhores comediantes e roteiristas dessa nova geração? E você acha que não pode piorar mais? Pois saiba que Serginho Mallandro e Nanny People estão se aventurando no stand up comedy. E lotando teatros... Já deu né? Juro que bateu uma saudade do Apolônio e da Velha Surda...