quinta-feira, 7 de abril de 2011

Incêndios

No começo dessa semana fui surpreendido por um filme ótimo: o canadense “Incêndios”, escrito e dirigido por Denis Villeneuve. Não sabia direito do que se tratava, mas o “crítico” que atualmente merece meu respeito, o site IMDB (International Movie Data Base), cotava o longa em 8.2 numa escala de 0 a 10. Resolvi conferir e o resultado foi maravilhoso.

Incêndios é um dramalhão, no bom e mau sentido, sobre a vida de Nawal Marwan (interpretada com maestria por Lubna Azabal). Uma libanesa que se mudou para o Canadá e morreu naquele país deixando o seu casal de filhos gêmeos (já adultos) . A morte de Nawal é o pontapé inicial do filme, que começa justamente na leitura de seu testamento para seus dois filhos.

Além dos bens da mãe, os herdeiros recebem uma missão: Encontrar o pai que eles achavam estar morto e um outro irmão, que eles não sabiam da existência. Para dificultar ainda mais a missão, Nawal não deixou nenhuma pista, nome ou paradeiro sobre as pessoas que precisam ser encontradas. Apenas uma foto sua ainda jovem quando morava no Líbano. E é para lá que a filha Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) parte em busca do último desejo de sua mãe e da verdade por trás da mulher que a criou.

A edição do filme, alternado o presente com flashbacks do passado de Nawal, é brilhante. Aos poucos, ficamos conhecendo sua história triste e seu terrível passado. Católica, ela teve um romance na adolescência e acabou engravidando do namorado. Este não teve a chance de conhecer o filho, pois foi assassinado por um dos irmãos de Nawal. Ela, por sua vez, além de perder o amor de sua vida, perde também o filho, que é levado pela bisavó para um orfanato.

O passado da mulher que parecia ser uma humilde secretária mãe de gêmeos, revela que ela, na verdade, foi uma guerreira. Sobrevivente do preconceito familiar, da guerra civil travada no Líbano entre católicos e muçulmanos e da prisão onde foi torturada durante 15 anos. O que a mantinha viva era o desejo de encontrar o filho que foi lhe tirado das mãos ao nascer.

Com um final surpreendente, ótimas atuações, edição impecável, Incêndios concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (ele é falado em francês e árabe) neste ano e dificilmente sairá da minha lista de melhores filmes de 2011. Imperdível.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Os Melhores Filmes de 2010

Nossa, só agora percebi como deixei o blog de lado. A desculpa é a mesma: trabalho, trabalho e mais trabalho. E um pouco de stress, preguiça e falta de vergonha na cara. Mas vamos voltar a escrever, pois afinal de contas é isso que eu gosto de fazer. Como estou de férias não prometo atualização diária. Mas olharei aqui com carinho. Meu primeiro post do ano é um balanço sobre os 10 melhores filmes que vi no ano passado.

Toy Story 3 – Encabeçando a minha lista está justo o filme que eu mais temia que fosse realizado. Por adorar os dois primeiros longas da Pixar eu achava que dificilmente eles acertariam a mão novamente. Não poderia estar mais errado. O desfecho da trilogia Toy Story é sublime, tão bom ou até melhor que os anteriores. Com Andy na adolescência e prestes a ingressar na faculdade, os brinquedos vão para um novo lar. Eu concordo plenamente com as palavras do crítico de cinema Inácio Araújo, que escreveu em seu blog: “a melancolia, a finitude, o abandono, o esquecimento, o fim do amor. É disso que o filme trata. Acho que o Bergman adoraria. O único cinema adulto de Hollywood hoje em dia são as animações. Parece piada”. Sublime.

A Origem (Inception) – Depois do sucesso de Batman – O Cavaleiro das Trevas, o diretor Cristopher Nolan volta arrasando com o seu misterioso A Origem. A trama do filme foi guardada a sete chaves durante o período de produção e todo o mistério envolvendo o filme, o roteiro brilhante, suas pontas soltas propositalmente e o final aberto conquistou o espectador. O melhor de tudo: fez o cidadão sair da poltrona e pensar, pesquisar e discutir sobre o que de fato aconteceu. Lembrou os bons tempos de Lost, quando logo após assistir o episódio, o espectador ia para internet pesquisar nomes e fatos, além de discutir em fóruns. O filme lembra produções sobre “grandes assaltos”,onde a equipe de Leonardo Di Caprio invade os sonhos das pessoas para roubar seus segredos. Seu último desafio, porém, é diferente. Ele precisa invadir um sonho e plantar uma idéia na cabeça de um indivíduo.

Um Profeta (Un Prophète) – Apesar de ser de 2009, o filme só entrou em cartaz no Brasil em 2010 (que novidade). O ótimo trabalho do diretor francês Jacques Audiard conta a história de Malik El Djebena. Um jovem ladrão pé rapado e analfabeto que aos 19 anos cai numa prisão barra pesada liderada por prisioneiros corsos, refugiados políticos na França, que não se misturam com os muçulmanos. Até certo ponto inocente, Malik é “recrutado” pelo líder da cadeia para fazer “missões” para eles. Ele aprende o jogo rápido e por ter descendência muçulmana aos poucos cresce na cadeia e o ladrãozinho acaba se tornando um grande criminoso.  Um filmaço.
Carlos – Cinebiografia de um dos nomes mais temidos da década de 70, o terrorista Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido como Carlos, o Chacal. Natural da Venezuela, ele se autodenominava um revolucionário de esquerda e mercenário. O filme tem incríveis 5h30 de duração, mas é possível assisti-lo em três partes (o que é uma pena, pois o ideal é ver mesmo tudo na seqüência). O belo trabalho do diretor Olivier Assayas retrata as duas décadas de ação do Chacal. Desde a sua luta pela causa palestina, seus trabalhos para o governo soviético e uma série de atentados pela Europa. O filme retrata de maneira bem neutra os períodos da vida do Chacal. Sua ascensão, seu auge e sua queda. Filme obrigatório e imperdível.

Cisne Negro – Embora o filme só chegará aos cinemas brasileiros em fevereiro deste ano, eu já tive a oportunidade de assisti-lo. Darren Aronofsky acerta em cheio na direção deste longa estrelado pela bela Natalie Portman (barbada para o Oscar de Melhor Ariz em 2011). Ela interpreta a certinha e obediente bailarina Nina, que sonha estrelar o espetáculo “O Lago Dos Cisnes”. Ao mesmo tempo que ela interpreta perfeitamente o cisne branco, ela não consegue encontrar o timing certo para interpretar o cisne negro. Fato que só consegue mudar com a chegada da novata bailarina Lily, que está prestes a roubar o seu papel, e faz com que Nina conheça o seu lado negro. Como bem disse o amigo Rodrigo Salem, é “o melhor filme de horror dos últimos 10 anos. Polanski deve estar orgulhoso”.  E bota orgulho nisso, é um filme do Polanski que nem o próprio Polanski consegue mais fazer.

O Segredo dos Seus Olhos – O cinema argentino está anos luz na frente do brasileiro. Prova disso é o belo O Segredo dos Seus Olhos, que faturou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano passado. O diretor Joan José Campanella convoca novamente seu ator predileto Ricardo Darín (trabalharam juntos em O Mesmo Amor, A Mesma Chuva; O Filho da Noiva e o Clube da Lua) para contar a história de Benjamín Espósito, um ex-funcionário público que resolve escrever um livro quando se aposenta. O tema é um caso policial não resolvido, que ele tenta resolver enquanto relembra dele para o seu livro. Só a cena da perseguição no estádio do River Plate lotado vale o filme. Sem contar o final que é surpreendente.

Tropa de Elite 2, O Inimigo Agora é Outro – 10 anos de passaram e o Capitão Nascimento se torna Comandante Geral do BOPE. Depois de uma situação desastrosa em um presido ele acaba ganhando moral e se torna Sub Secretário de Inteligência do Governo do Estado. Em seu novo cargo, ele conhece o mundo fora dos morros cariocas e começa a enxergar melhor o problema do tráfico de drogas, percebendo que os políticos e policiais envolvidos em milícias são bem mais nocivos que a bandidagem do morro. Wagner Moura está excelente no papel que o tornou pop star, mas o grande destaque do filme é Irandhir Santos, que interpreta o deputado Fraga, defensor dos direitos humanos, marido da ex de Nascimento e que exerce grande influência sobre o filho do policial. Não é uma obra-prima como o primeiro filme, mas é um filmaço e que já se tornou (com muita justiça) o recordista de público da história do cinema brasileiro e o filme mais assistido no Brasil em 2010.

Machete – O que era uma brincadeira virou uma bela realidade. Um trailer falso criado pela cabeça doentia de Robert Rodriguez para ilustrar o seu projeto Grindhouse, ao lado do amigo Quentin Tarantino, caiu no gosto popular e ele se viu obrigado a fazer o longa de Machete. Danny Trejo é Machete. Um agente federal e imigrante mexicano que cai em uma armadilha arquitetada por seu arquiinimigo, o traficante de drogas Torres (Steven Seagal, hilário), que resulta na morte de sua esposa e o torna um renegado. Nos EUA, ele aceita uma proposta para para matar o Senador John McLaughin (Robert DeNiro), que quer expulsar todos os imigrantes ilegais do México. O elenco ainda tem nomes de peso como Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Lindsay Lohan, além do Miami vice Don Johnson.

A Rede Social – Pra mim essa foi a grande surpresa do ano. Jamais pensaria que fosse me interessar pelo filme que conta a história da criação do Facebook. Mas o diretor David Fincher surpreendeu e realizou um belo trabalho. O filme mostra como o estudante Mark Zuckerberg teve a idéia (roubou, na verdade) de criar o site quando ainda era estudante universitário e sua personalidade fria e calculista.

Vincere – O extraordinário filme de Marco Bellochio mostra a vida de Benito Mussolini, antes dele se tornar o grande líder do fascismo. No início de sua carreira política ele se apaixona por Ida. Ela se torna a grande incentivadora de Mussolini, chegando a vender tudo o que tinha para ajudá-lo, financiando o projeto de um jornal que ele tinha na época. Mas ao engravidar dele, tudo vai por água baixo. Ela é abandonada e trancada em um hospício como se fosse louca para que não tivesse condições de realizar aquilo que mais desejava: Revelar ao mundo que ela era mulher de Mussolini e foi abandonada juntamente com o seu filho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

John Belushi Eterno

O André Forastieri escreveu essa semana no seu blog um texto sobre cocaína. Nele, ele cita o comediante John Belushi (morto por overdose em 1982) e linka para um vídeo dele imitando o Joe Cocker cantando With a Little Help From My Friends, dos Beatles. Eu não lembro de ter assistido isso, mas, assim como quase tudo o que o Belushi fez, é brilhante e antológico. Divirta-se.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Muita Muita Muita e Muita Calma Nessa Hora

Não faço a menor idéia de como aquele intragável “A Cilada”, do filho do Chico Anysio, Bruno Mazzeo, faz tanto sucesso no canal pago Multishow. Além de liderar audiência da emissora, colocou o humorista num nível elevado do humor nacional, classificando-o como um dos grandes roteiristas do gênero da nova safra de comediantes. E olha que isso não é piada não. Talvez seja parte daquele processo que citei anteriormente sobre o emburrecimento generalizado que essa geração avatar atravessa, vai saber...

Desde o ano passado rola um burburinho que Mazzeo seria um dos “cérebros” por trás do novo humorístico da Globo ao lado de outro comediante da moda, Fábio Porchat. Chegaram, inclusive, de classificar o projeto como o “Novo TV Pirata” (que blasfêmea). O resultado é esse tal de “Junto e Misturado”, que está para o TV Pirata, assim como o Val Baiano está para o Romário.

E como todo desgraça pouca é bobagem, Mazzeo chegou ao cinema. Assisti o trailer do seu filme (Muita Calma Nessa Hora) na sessão do Tropa de Elite 2 e é disparado mais violento que o filme do José Padilha. A comédia carioca, com praias, sorriso maroto, saradas e saradinhas, amigos humoristas no elenco, piadas batidas, brodagens, suuuuuurrrrrf, colééééééééés, feiiiiiixxxxxxtasssssss e afins é uma agressão mental. Muito mais possante que os tiros dos Caveiras. Isso sim é osso duro de roer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

15 Anos Sem Costinha

Hoje faz 15 anos da morte Costinha. Indiscutivelmente um dos maiores humoristas da história do nosso país. Especialista em contar piadas de bicha, improvisar em shows e que fazia graça com tudo e com todos com maestria.

A primeira vez que vi um show dele ao vivo eu tinha 14 anos de idade. Foi no clube Portuários em Santos. O local estava abarrotado de policiais e membros do juizado de menores. Meu tio Flávio, que já tinha sido diretor do clube, conseguiu me colocar para dentro dizendo que eu estava prestes a completar 18. O porteiro olhou minha carteirinha de sócio e trucou meu tio na hora. “Porra, Flávio, o garoto não tem nem 15”. Depois de um pouco de insistência o porteiro cedeu. “Beleza, mas tu vai ficar sentado na mesa né? (meus pais tinham reservado uma). Não sai de lá por nada porque ta cheio de gente do juizado aqui”.

Fiquei feliz pra cacete. Finalmente ia ver ao vivo a performance do grande Costinha. Ia conferir de perto as piadas que cansei de ouvir nas fitas cassete do “Peru da Festa”. O show foi fodaço, mas quase me mijei nas calças quando ele começou a andar pelas mesas e brincar com a platéia. Por sorte ele não me viu. Se me visse com certeza ia brincar com a minha idade e atrair a atenção do juizado de menores. Mas tudo bem. Poderia até ser fichado naquela noite. Ficaria feliz do mesmo jeito.

Abaixo, alguns momentos brilhantes do saudoso mestre Costinha.